O RETIRO INACIANO E AS CC.MM.

Uma das características mais tradicionais da espiritualidade das CC.MM. é sua marca inaciana. Isso vem das suas próprias origens. Quando em 1563 o Pe. Jean Leunis iniciou no Colégio Romano a primeira Congregação, a que seria a Prima Primária, eram passados somente 7 anos da morte de Santo Inácio de Loyola. A cidade de Roma, em especial as casas da Companhia de Jesus, como o Colégio Romano, respiravam ainda intensamente o espírito do santo autor dos "Exercicios Espirituais". Esses eram considerados e vividos como um caminho de oração, de reforma da própria vida e de seguimento de Jesus Cristo. Eles ofereciam um instrumento providencial para a resposta do cristão à vocação à santidade que decorre de sua consagração batismal. O uso dos Exercícios não se limitava a sacerdotes e religiosos. O próprio Santo Inácio, em sua vida, dirigira muitas vezes os Exercícios para leigos. A nova associação tornou-se, porém, a primeira iniciativa consistente de formação de leigos no espírito dos Exercícios de Santo Inácio.

Desde então, a prática destes Exercícios passou a ser uma constante na vida das CC.MM.. As antigas Regras Comuns, no seu nº 9, prescreviam os Exercícios ou o Retiro Inaciano para todo Congregado, que o devia fazer, ao menos, uma vez cada ano. Sugeriam mesmo que eles fossem feitos no tempo da Quaresma e propunham uma duração de 6 dias, sempre em lugar retirado e adequado para a oração e silêncio, na medida do possível. A "Bis Saeculari', a Constituição Apostólica de 27 de setembro de 1948 do Papa Pio XIl, Carta-Magna das CC.MM., acentuava como elemento fundamental da eficácia desta Associação, o "uso dos Exercícios" (nº 4). O grande Bispo mariano, o Arcebispo do Rio de Janeiro, Cardeal Dom Jaime Câmara, na sua Carta Pastoral sobre as CC.MM. em 31 de Julho de 1956, insistia na necessidade do Retiro Inaciano, "o Retiro verdadeiro, o Retiro fechado, como é tradição chamá-lo, de preferência segundo o método inaciano, tantas vezes recomendado pela Santa Sé, ainda ultimamente quando se referiu a sua atualização às circunstâncias dos tempos modernos". A tradição do Retiro Espiritual, segundo o método inaciano, na vida das CC.MM. do Brasil, chegou a tal ponto de exigência que, na década de 30, em São Paulo, era normal se dizer: "Ou Retiro ou retire-se", para mostrar ser inadmissível Congregado Mariano que não fizesse cada ano seu Retiro Espiritual.

A Regra de Vida enfatiza a necessidade do Retiro Espiritual na vida de hoje das CC.MM. do Brasil. "Em especial, deve o Congregado Mariano participar anualmente do Retiro Espiritual fechado
ou, pelo menos, aberto, promovido pela Congregação ou a Federação Diocesana, segundo o método dos Exercícios Espirituais de Santo lnácio de Loyola, convencido de que este é um modelo comprovadamente eficaz, recomendado pela Santa Igreja e tradicional nas
Congregações Marianas, para reformar e afervorar a própria vida espiritual, criar o hábito da oração mental e do discernimento espiritual da ação do Espírito Santo em seu interior, para aprender, conhecer, seguir, amar e imitar a Jesus Cristo.

A prática do Retiro Inaciano na vida atual das CC.MM. do Brasil apresenta dois grandes problemas.

O primeiro é, precisamente, a dificuldade dos Congregados de poderem reservar alguns dias, poucos que sejam, cada ano, para se afastarem da vida familiar e das obrigações profissionais a fim de
se dedicarem ao Retiro Espiritual. Dificuldades decorrentes do trabalho, das exigências dos encargos familiares e, mesmo, dos custos inevitáveis do Retiro, uma vez que a maioria dos Congregados não é constituída de pessoas ricas ou mesmo com um orçamento confortável para despesas extraordinárias. Essa dificuldade é séria, mas pode ser superada com boa vontade, criatividade, solidariedade fraterna. Basta que cada Congregado se convença sinceramente de
que o Retiro Espiritual, mais que uma exigência, é algo vital para que ele possa manter o fervor de sua Consagração Mariana.

Outro problema é a dificuldade de se encontrar um Padre Pregador ou Diretor Espiritual para o Retiro. De modo especial, um padre que esteja familiarizado com o Retiro Inaciano. Neste caso, a solução é mais difícil e depende menos dos próprios Congregados.

Se o ideal é a presença de um sacerdote como Diretor Espiritual e como orientador do Retiro, será preciso, muitas vezes, contentar-se com o que aparece como possível. O importante é que esta dificuldade não seja motivo para se deixar de organizar o Retiro. Neste sentido, um dos projetos especiais do Projeto de Formação, ora em estudo no âmbito das Federações de todo o Brasil, é a organização de cursos específicos e a divulgação de estudos que visem a formação de Diretores Espirituais para o Retiro Inaciano. Cursos para Sacerdotes, de preferência, mas abertos também a religiosos e religiosas ou, ainda, a Congregados de boa capacidade. Estes poderão, numa emergência, dirigir o Retiro Espiritual. Este projeto está previsto no n° 25 da Regra de Vida e poderá ser realizado em cooperação com outras Associações que seguem a espiritualidade inaciana e inculcam também o uso do Retiro Inaciano para seus membros.